As Razões de Aristóteles 12 - O papel da concordância prévia do outro

Demonstrar é mostrar a alguém que uma conclusão decorre de um princípio. Mas, para que isto ocorra, uma condição evidente deve ser satisfeita: o princípio da demonstração deve ser partilhado por aquele a quem se vai demonstrar algo.

Se o princípio não for aceito de antemão pelo interlocutor, o argumentante necessitará demonstrar o próprio princípio, de modo que ele não será um princípio autêntico. E, se o for, será impossível fazê-lo, já que os princípios não podem ser demonstrados, justamente por serem aquilo a partir do que se demonstra algo.

Os axiomas, enquanto verdades principais comuns, devem ser reconhecidas por todos. Elas são dignidades, notoriedades, justamente por isto.

Um axioma não notável, sutil em demasia, não evidente por natureza, não é um axioma.

O mesmo quanto a definições e pressuposições. Não são evidentes como os axiomas, mas se pede ao interlocutor que os considere, para ver as conclusões a que se chega. Sem admitir definições e pressuposições, ninguém aceitará demonstração alguma.

De uma conversa de bar à defesa de uma tese de doutorado: sempre será necessário que aquele que demonstra parta de uma concordância prévia do outro.

Tal é o caso, por exemplo, do princípio de não-contradição. Ele é um princípio da própria demonstração como tal, em qualquer campo da ciência. Demonstrar uma tese é demonstrar uma tese não contraditória.


Aquele que admite a possibilidade de uma contradição manifesta ser verdadeira – por exemplo, a possibilidade de um quadrado ter e não ter quatro lados – não pode ser interlocutor num processo demonstrativo. 

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