As Razões de Aristóteles 17 - O Nous como fruto da epagoge

Uma fonte de intermináveis mal-entendidos se origina numa outra afirmação de Aristóteles sobre o noûs, apresentada por Berti em seu estudo: a de que o noûs provém da epagogè.

Esta segunda noção foi, amiúde, traduzida por indução, e assimilada assim ao conceito de indução lógica, que consiste da obtenção de verdades universais a partir de uma coleção de verdades particulares, através da extensão ou generalização dos resultados obtidos nesta amostra.

Como o método indutivo sempre pretendeu partir unicamente de verdades particulares, de observações de casos, de afirmações obtidas na experiência sensível, eis que se concluiu que a única forma de obter verdades fundamentais, que funcionam como premissas das conclusões, como fundamento das deduções, seria através da atuação prévia da indução.

Trata-se, porém, de um equívoco. Pois, se o noûs dependesse de verdades prévias, ele não seria uma captação de princípios, como Aristóteles o colocou. E se o próprio Aristóteles esquadrinhou a noção de indução como um tipo específico de raciocínio, não se deve colocar o noûs em seu terreno.

Assim, Berti propõe traduzir a noção de epagogè não por indução, mas por introdução, isto é, por um conduzir para dentro, um levar para o interior, um apresentar. De fato, é isto que a inteligência aristotélica faz, se a consideramos como uma faculdade originária: ela nos leva, de chofre, para o interior de um conhecimento que não obtivemos pela mediação de verdades outras, que não adveio da atuação de uma demonstração, que não está constituído de conclusões.


É claro que, diante da experiência, o homem muita vez apreende verdades universais, num salto que parece com aquilo que propõe o método lógico indutivo. Todavia, a introdução da inteligência é um sacar a verdade universal dentro da verdade particular, um alçar-se direto ao universal, e não um lento e fastidioso caminhar de fato em fato, de caso em caso, para calcular e atribuir ao universo as propriedades mais anotadas naquela amostra de indivíduos. 

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