Ísis sem véu - Tomo I - Introdução: Ante o Véu

1. Blavatsky ironiza a idéia de que todo progresso humano adveio das luzes do cristianismo a extirpar as trevas do paganismo, e da ciência moderna afastar a ignorância. Lembra o clericalismo, a tripla guerra santa em Jerusalém, e os constantes combates dos eruditos às idéias desbravadas por gênios como Galileu. 

2. Critica também a idéia de que a sabedoria antiga só era profunda para sua época, citando o espiritismo como prova de que doutrinas antigas tinham base empírica, e como prova de que a verdade é universal, e que só aparece no consórcio entre ciência e religião. 

3. Diz que Platão é influenciado por Vyasa, Jaimini, Kapila, Vrihaspati y Sumantu. Platão ainda assevera que o homem é homogêneo a Deus em essência, e que por isso pode conhecer o real e o eterno. Mas que só Deus pode conhecer estes de forma direta e imediata, sendo que a busca humana por tal conhecimento é a própria filosofia, um amor espiritual que purifica todo desejo e torna o homem justo e santo. 

3.1. No entanto, o caminho da verdade não é algo, externo, transcendente, subsistente por si mesmo; ao contrário, é parte do homem, está na sua vida contemplativa, pela qual ele relembra as verdades que jazem na parte divina de seu ser. Esta reminiscência, aliada à perfeição na prática dos mistérios são a chave da sabedoria. 

3.2. É por isto que os mitos da ascese são noturnos,e daí a preferência de Dionísio a Hélios: a vida do espírito é a morte do ser material, e a claridade comum é em verdade o Inferno ou Hades no qual decaímos. 

3.3. Theon de Esmirna compara a filosofia com a inciação: há a purificação, a admissão nos ritos, a revelação epóptica, a entronização ou investidura e a comunhão com Deus ou glória suprema. Platão chama de epoptéia ou visão personal á contemplação das idéias e verdades absolutas aprendidas por intuição. 

3.4. Blavatsky vê em Platão a síntese de todo o saber de seu tempo, de Filolau e Sócrates em Atenas, de Pitágoras na Itália, do Egito e do oriente. E o defende de Aristóteles, para o qual Platão dissera que as idéias têm existência substancial, quando na verdade estas e os números eram atributos da razão divina objetos da razão humana, segundo as quais o mundo fora criado, sendo que a causa final de tudo era o Bem. 

3.5. Para ela, Pitágoras também falava de forma simbólica e não literal, e sua filosofia dos números já se achava no hinduísmo. Neste, Swayambhuva ou Uno gera Brahma, a faculdade criadora, o princípio material , e da correlação destes nasce Virdji ou mundo fenomênico. Desta trindade ou Trimurti invisível, nasce a visível, que é Brhama, Vishnu e Shiva, ou seja, faculdade criadora, conservadora e transformadora, embora todos se reúnam em Brahma.  Daí o Criador se desvanece na Alma suprema, no vazio obscuro. Isto representa a progressão dos números perfeitos de Pitágoras: 1,2,3,4, que são o Uno ou Mônada, a Díada, a Tríada e o Vazio, cuja soma forma a Década suprema. 

3.6. Na questão do conhecimento, o platonismo também assemelha-se ao hinduísmo. Espêusipo, vê no pensamento científico o meio de conhecer o invisível, e a percepção científica o meio para o visível. Xenócrates distingue entre pensamento(que conhece o que está além do céu), a percepção, que conhece as coisas do céu, e a intuição, que conhece o céu em si. O Manava-Dharma-Shastra hindu traz quase literalmente esta tripartição ao explicar a origem do homem: “Él (el Supremo) exhaló su propia esencia, el soplo inmortal, que no perece en el ser, y a esta alma del ser, le dio el Ahankâra (conciencia del Ego) o guía soberano. Después dio a aquella alma del ser (hombre), la inteligencia compuesta de tres cualidades y cinco sentidos de percepción externa”.  Estas três qualidades são entendimento, consciência e vontade, que equivalem às de Xenócrates. Este ainda avança na teoria platônica; embora concordando que a alma é número semovente. 

3.7. Crantor, por seu turno, afirmava serem as estrelas imagens dos deuses, superiores a homens e animais. Repetindo lições hindus, estava defendendo a existência de almas planetárias e constelatórias. E os seus três graus de espíritos entre Deus e homens revela uma continuidade mais racional que o vazio que ali enxerga a ciência atual. Duas destas classes são invisíveis; a terceira, os espíritos humanos, também o são, mas podem ser vistos ocasionalmente.


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