III – Za-zen e o Koan
1. Não se pratica zen para ser Buda, mas porque ja se é,
agora.
1.1. Ter um olho na pratica e outros em fins, é
desconcentração e insinceridade.
2. O za-zen, zen sentado, parece
não só inatural, como perda de tempo, ao ocidental. Sem falar que
não se melhora o mundo assim, pensamos.
2.1. Mas uma ação sem sabedoria pode
e tende a prejudicar. E nada fazer num munto abarrotado é ajudar ainda mais.
2.2. Animais, e povos primitivos, ficam parados por horas. Só o
intelecto sensitivo, habituado a prever o futuro e antecipar-se a
ele, é que não consegue.
2.2.1. Ser incapaz de repousar assim é ser
incapaz de experimentar plenamente o mundo em que vivemos e de
compreendê-los sem conclusões apressadas, vendo diretamente, sem
símbolos abstratos que deformam a percepção dor real.
2.3. Quieta
consciência sem comentário. Consciência da não diferença entre
eu e não eu, mente e conteúdo percebido. “nem o propósito de não
ter propósitos”.
3. A idéia do ceromonioso za-zen é agir como
Buda, exaltando o valor do trivial, como as 4 dignidades de Buda:
caminhar, sentar, estar de pé, e encostado. Total presença de
ânimo, fazendo cada coisa com tal valor, que parece estilístico.
3.1. Mas decerto, há perigos no ritualismo e formalismo que discerne
graus de perfeição, e que só estetizam e estilizam a experiência,
gerando diferenças entre fieis e infiéis, entre instituições,
sistemas, doutrinas. Uma disciplina artística pode ser bela sim, mas
tende ao exagero, e quando se chega ao formalismo autoconsciente, o
zen está perdido.
4. Hakuin estabeleceu seis níveis de koan. Mas
nem todos precisam superá-los; tampouco a simples resolução de um koan implica evolução da mente. Sartori também não é o completo
despertar, a iluminação definitiva, mas os lances de intuitividade diuturnos, e muitas vezes
solucionam os koans mais do que a reflexão.
4.1. A perfeição do
mestre budista não é aquela, mitológica, das fantasias teosóficas,
e sim o ser perfeitamente humano. Difere do homem comum porque este
tem dificuldades com sua humanidade, e quer ser anjo ou demônio.
5.
A função do mestre no Zen é diversa das práticas doutrinais do
ocidente. A verdade do zen é tão evidente e imediata, que toda
ajuda atrapalha. O mestre então, põe obstáculos, para que o
aprendiz os supere por si mesmo; falsa tarefa ou falso auxílio. “O
que entra pelo portão não é tesouro nosso”, o zen explicado e
repetido é insosso chato.
5.1. Os koans iniciais e mais famosos: ‘a cara
original', 'wu’, ‘uma mão’. E o roshi não quer respostas
filosóficas; quer que lhe mostre. O estudante se sente dentro dum
bloco de gelo que o impede mover-se e pensar; o universo é um bloco
de duvida. Daí para um agir livre, dissipadas as camadas ilusórias
de duvidas e opiniões, afinal, este não-sei-quê come, anda e dorme
da mesma forma como dantes. E culmina na suprema naturalidade de não
mais se opor nem mesmo à convenção; é a ‘liberdade que sustenta
o mundo’, qual o livre arbítrio cristão, que consiste não em
agir por recompensa, medo ou orgulho, mas por amor a Deus. O agir
ético só tem sentido quando livre da compulsão da razão ou da
necessidade.
6. O koan tem inconvenintes, mas toda técnica tem,
mesmo a Bankei(ausência de métodos).
6.1. O risco de achá-lo o
único caminho, seria particularizar o zen numa manifestação sua
histórica e cultural.
6.2. A contraposição extremada entre sartori
e duvida intensa, como preliminar indispensável dele. É o mesmo
que, para sentir prazer e alívio, submeter-se a um desconforto
intenso anterior. Ou como a propaganda religiosa que nos inculpa de
tudo para depois dar a fé em Jesus como remédio. Não são
duradouros.
6.21. O despertar nem sempre se acompanha da sensação
de alívio, ou êxtase; ele é wu-shih, nada especial, não
pode ser objeto particular de conhecimento ou experiência.
6.22.
Despertar é saber o que a realidade não é. E isso não significa
sair da ontologia na qual sou algo para aquela em que sou nada. Pois
ambos os termos são relativos, e referidos ao conhecido.
6.24. O
koan serve sim como intensificação do esforço com vistas a mostrar
sua nulidade, mas o satori é o ato de abandonar-se, e não o alivio
correspondente.
6.25. Mas também serve a confiança de Bankei na mente
não nascida, e a de Shinran na palavra Nembutsu, e o método do judô,
o perceber que a mente sempre será espontânea, tratemos de
controlá-la ou não. Mas estes tendem ao fetiche, e ao desvio.
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