1. Toda realidade polar existe e se manifesta juntamente com o seu
contrário.
1.1. Buscar o bem puro, é como querer a pura direita ou
esquerda.
1.2. O êxito já é fracasso, pois quanto maior é, mais
necessidade de êxito exige para conservar-se.
2. O princípio não é
parar de sentir, mas parar de escolher, de buscar algo ideal e fixo.
2.1. Escolher é absurdo, não porque se deva desistir do bem pelo mal,
mas porque não se pode querer nenhum dos dois.
3. A sensação de
bem surge em momentos de contraste, como quando se muda de direção.
4. Não escolher não significa submissão, já que no Taoísmo a
separação do eu e do não eu é também relativa.
4.1. Não aceitamos suar ao calor. Não precisamos escolher aí. Suar é fazer calor. Não há um submisso e um destino.
5. Crer que
há alguém submetido ao prazer e à dor é um erro semântico, uma
sugestão hipnótica pela repetição indefinida do pensar, cujo
problema maior é poder fazer símbolos das coisas separados delas;
estes, sendo mais estáveis que elas, nos jogam na ilusão da
permanência, no conflito entre a idéia adquirida de si e o
sentimento imediato de si.
6. Quando o indivíduo se desidentifica,
desiste de compreender a vida lá fora, e vê-se como a totalidade
das coisas de que é consciente, aí ocorre uma câmbio na relação
sujeito objeto, que passa a ser de reciprocidade, de criação
recíproca.
7. Quando se sai da crença do isolamento subjetivo, se
descobre a relatividade da vontade. Achamos volitivo tudo que sucede
a decisão, e involuntário o que a precede.
7.1. Mas assim, a decisão
voluntária teria de ser precedida pela decisão de decidir, e assim
ao infinito, de modo que não seríamos livres.
7.2. Somos livres porque a
decisão simplesmente ocorre, não é voluntária nem involuntária.
8. A libertação dos recordos nos devolve ao fluxo da vida que
deixamos escorrer ao nosso lado. Dogen: tal como é ilusório o
repouso do barco e o movimento da costa, assim o é o repouso da
mente.
8.1. A lenha não vira cinza; cada um está em si, não há o tornar-se.
9. Assim
como o movimento vertical da água dá a ilusão de uma onda a
propagar-se, assim a idéia de futuro é falsa, e com ela, a da
perseguir o bem e prolongar a vida.
9.1.“Uma flor matutina não difere
do carvalho milenário” Sua vida para ela dura como a de uma
tartaruga para si. Dogen: a flor só morre quando queremos
conservá-la.
10. O zen começa quando se desilude da idéia de
melhorar.
10.1. Não há estados melhores que os outros, e não se torna
Buda. “Uma coisa larga é o largo corpo de Buda; uma coisa cura, o
curto corpo de Buda”.
10.2. Bem e mal são símbolos que se quer reais,
alcançáveis, como o caminho que um pintor desenhou numa parede.
10.3. O
que se ganha com o zen é wuh-shih, ou seja, nada em especial, e
ainda, o perfeitamente natural e inalterado.
10.4. Buda: do completo e
insuperável despertar não descobri nada, e por isso é que ele se
chama o completo e insuperável despertar.
10.5. “O monte em
chuva, o rio grande/ antes de ir lá não cessava a dor do desejo/
fui e não vi nada demais/ o monte em chuva o rio grande”.
10.6.“Antes
de conhecer o zen, via o rio como rio e o monte como monte. Quando comecei a conhecer o zen, o rio deixou de ser rio, e o monte deixou de ser monte. Hoje, que compreendi o zen, o rio voltou a ser rio, e o monte voltou a ser monte..”.
11.
O zen é volver a atenção do abstrato ao concreto. Mas não há
símbolo que esquecer nem idéia de realidade a recordar.
12. A
realidade plural e una são ambas abstrações; não há como
diferenciar ou identificar duas coisas sem palavras, nem
descrevê-las.
13. Quando se busca a mente, só há coisas, e
vice-versa.
14. Lao-Tse: “O Tao, sem fazer nada, não deixa nada
sem fazer”.
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