II – Quietamente sentado, sem fazer nada
1. Ao caminhar, caminha e nada mais. Não divida a mente entre
alternativas. “Não podes obtê-lo pondo-te a pensar; não podes
buscá-lo sem pôr-te a pensar”.
2. A mente se assemelha, mas não
se reduz, aos sistemas cibernéticos dotados de feedback, assim como o comércio não se reduz à aritmética.
2.1. No entanto, todo sistema
corretivo deve ele próprio ser corrigido, e assim deve haver um
limite, para que o sistema não se anule pela própria complexidade.
Assim, o homem deve encontrar uma regra em tempo hábil, uma
autoridade inquestionável antes que a ação se torne inviável.
2.2. O sistema ainda pode falir de outra forma, estreitando-se
excessivamente a margem de erro, de retardo ou de operação.
2.3. A vida
humana é ação, controlada pela reflexão, ou seja, pelo feed back
das ações passadas. A memória resume o passado de forma
variavelmente abstrata, simbólica; temos que confiar na sua seleção,
pois se recordássemos tudo, pararíamos.
2.3.1. Mas, para continuar enviado
dados novos à memória, o sistema de ação deve ser em parte
independente da memória, de modo que há um retardo de tempo entre a
fonte de informação e a de ação.
2.3.2. A caldeira que responde
imediatamente ao termostato marcha e pára ao mesmo tempo; assim o
desejo de seguridade, de permanência, faz a mente prender-se á sua
imagem e não se solta; vem o paradoxo, pois ela prende-se a uma
imagem de si mesma em movimento; acha que deve fazer o que não faz,
e vice-versa.
2.3.3. “Quando caminhar, caminhe e nada mais”. Abandone a
mente a si mesma, confiar na memória e na reflexão,
espontaneamente.
2.4. Daí o método de respostas impensadas dos mestres
Zen, que deixam a mente atuar por si, só.
2.4.1. Na verdade, pensar é
atuar para o zen; a questão está em evitar o regresso ao infinito,
e a dissociação teoria e prática.
2.4.2. Agir pensando em que se faz é tão paradoxal quanto a sentença de
Epimênides: 'estou mentindo'.
2.4.3. O mesmo quanto à sensação: se busco sentir melhor a
felicidade que estou sentido, o sabor da janta, etc. Deve-se agir
como “um olho que vê e não pode ver-se”.
2.4.4. Não se pode agir
assim até ter-se a perfeita consciência de que é impossível agir
de outra forma.
2.4.5. Não é preciso tratar de fazê-lo; nem tratar de não
tratar, tudo isto é falso.
2.4.6. Daí a resposta de Yun-men le à pergunta
‘que é o Tao”: “segue caminhando”.
3. Sentar quieto e esperar
vir o mundo, a primavera.
3.1. Banken: tentar varrer os pensamentos é
limpar o sangue com sangue. A mente e seu objeto de busca ou combate
são um só.
4. O zen é uma medicina para aqueles que dominam as
convenções daquela civilização, para quem tem excessiva
autoconsciência.
4.1. Descobre-se que as duas mãos que lutam são do
mesmo ente; ser e mundo, cognoscente e cognoscido, voluntário e
involuntário, são ambos naturais, espontâneos, etc. sou o espaço
vazio em que tudo está ocorrendo.
4.1. Isto não é panteísmo, pois o
zen despreza todos os conceitos como supérfluos.
4.2. A realidade é
absurda, pois não é signo de nada, nada significa.
4.3. A experiência zen é mais uma
conclusão do que uma premissa.
4.4. Como a visão beatífica cristã,
para além da qual nada há, e que é loucura para os gregos
(lógicos) e escândalo para os judeus(moralistas).
4.5. Todas as
conclusões metafísicas sucedem-se diante dela, e não a partir
dela, pois ela é absoluto fim em si mesmo.
A) o Zen não é ingênuo
para, a partir do “tudo é tao”, sugerir uma ética da
fraternidade
universal absoluta, a qual inviabilizaria a existência, pois a cada
dia temos que sacrificar vidas.
B) Embora se deva dizer que a
experiência zen é sem finalidade e sem efeitos, é possível
enxergar qualidades inconfundíveis no que surge dentro dela. Mo chih
ch’u, p. ex., agir sem titubear; e wu-wei, afinalismo. A mente zen
funciona sem oscilar entre alternativas, sem impedimentos, e grande
parte da instrução zen pertine a problemas e dilemas que se deve
resolver sem escolher, similar ao talento de improviso do comediante
nato. O zazen e a apresentação formal do koan são posteriores. C) Uma história zen: “não o estou entendendo, diz o discípulo” “então, aproxima-te, diz o mestre”; quando o discípulo se aproxima, o mestre exclama “que bom que
já me entendes!”.
O mo chih ch’u não se propõe tanto a
eliminar o pensamento, quanto o seu bloqueio.
Ação impusiva sem
titubear, e pensamento impulsivo, sem titubear. Algo semelhante à
associação livre, na psicanálise.
Wu-nien traduz-se por sem
bloqueio, ou sem pensamento (sem 2º pensamento ou segunda intenção, melhor
dizendo, o qual significa o apego mundano de que fala Buda).
Que te
falta agora ante Tao e Dharma? Estudar, disciplinar, é produzir
karma.
D) Wu-shih é sem artifícios, sem meios para ser natural. [a
naturalidade é a própria ausência de meios, a espontaneidade, a
graça].
E) A filosofia, o zen, são ganchos para tirar um gancho
garrado em nós. Se nos agarramos a ela tb, os dois ganchos viram um.
É lavar sangue com sangue. Não há Buda que buscar, bem que
ganhar, mal que evitar, corpo a perecer, alma a salvar, mente a
purificar.
F) a espada de prajna corta todas as abstrações.
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