Crítica da Razão Pura (resumo) - Introdução IV e V - Distinção entre juízos analíticos e sintéticos

Só cabe classificar como analíticos ou sintéticos os juízos que pensam a relação de um sujeito com um predicado. Por estranho que pareça, nem todos os juízos fazem isto. O juízo de existência, por exemplo, "Deus existe", não liga nenhum predicado ao sujeito 'Deus', segundo Kant. Apenas diz que aquele sujeito, com todos os seus predicados, sejam quais forem, é dado. 

Distinga-se pois, juízos predicativos e não-predicativos, logo de saída. 

Dentre os juízos predicativos, há os afirmativos e os negativos, conforme atribuam ou recusem atribuição dum predicado a um sujeito. 

Em ambos os casos, Kant chama analíticos os juízos predicativos cujo predicado é implícito ao conceito que se faz do sujeito. No juízo "o quadrado é um quadrilátero", o predicado nada acrescenta de fora ao sujeito 'quadrado': apenas explicita o que é inerente a ele. É um juízo analítico.

Mas, se alguém diz ''este quadrado é verde'', o predicado é algo que não pertence ao sujeito necessariamente. Pode ser tirado sem contradição, isto é, sem que torne absurdo o sujeito. Um quadrado sem quatro lados é absurdo. Um quadro não-verde é possível. É um juízo sintético. 

Diz Kant: os juízos analíticos são pensados com identidade. Isto significa: no fundo, são juízos que dizem ''A é A'', muitas vezes repetindo o sujeito no predicado de outra forma. São tautologias, verdades lógicas redundantes e vazias. Definitórias, mas não informativas. Por isto mesmo Kant os chama também de '' juízos explicativos''. 

Já os juízos sintéticos são por ele chamados de ''extensivos'', porque estendem a compreensão que temos do sujeito, acrescentando-lhe predicados. Quem diz '' Lobos são carnívoros'', acrescenta um predicado novo ao sujeito. 

Os predicados do juízo analítico são obteníveis por decomposição do conceito. Se eu defino triângulo como polígono regular de três lados e três ângulos, os juízos ''triângulos têm três lados'' e ''triângulos têm três ãngulos'' são analíticos por decomporem o conceito total do sujeito. Juízos analíticos são conceitos do sujeito ou expressões parciais de conceitos do sujeito. 

Os predicados do juízo sintético são obteníveis por associação, ao conceito, de um predicado inicialmente não pensado nele. 

Os juízos de experiência são todos sintéticos. Sempre trazem informações não imanentes ao sujeito, ligam o conceito do sujeito com acréscimos da realidade experienciada. Segundo Kant, isto acontece porque a própria Experiência é sintética em si mesma, é uma ligação sintética de intuições. A experiência visual que tenho agora, por exemplo, é uma síntese de todas as intuições visuais parciais simultâneas: deste texto, desta tela, do notebook, da mesa, da sala, tudo isto em unidade sintética. 

O juízo analítico não amplia o conhecimento: o desenvolve e clarifica. Por isto mesmo, é sempre a priori, isto é, independente da experiência: não preciso verificar empiricamente que um quadrado tem quatro lados (posso verificar se isto aí que estou vendo é um quadrado). 

O juízo sintético empírico é a posteriori. A partir da experiência, ligo um predicado externo a um sujeito: Vladimir Putin é o atual mandatário da Rússia. 

Para Kant, porém, há juízos sintéticos independentes da experiência, ou seja, juízos sintéticos a priori. Estes seriam sintéticos como os empíricos, mas a priori como os analíticos. Em vez de ligar um sujeito empírico contingente a uma intuição empírica contingente (''Vladimir Putin'' a ''ser o mandatário da Rússia''), ligam universalmente dois conceitos: ''A gravidade é proporcional inversamente à distância''. Não preciso experimentar todas as ocorrências possíveis de gravidade e de distância para concluir empiricamente a necessidade de sua ligação. 

O interessante, neste caso, é que os juízos sintéticos a priori são independentes da experiência, como os analíticos, mas trazem informação nova como os sintéticos empíricos (ou seja, são extensivos).

Para Kant, os juízos da ciência são sintéticos a priori. Ele buscará provar que tal se dá com a Matemática, a Lógica e a Física. E tentará verificar se tal se dá com a Metafísica, para concluir se ela é ou pode ser uma ciência. 








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