Do sexo à superconsciência - As linguagens do amor e do ódio

Amor é algo fácil de sentir, mas difícil de definir, de descrever.

Com esta afirmação, Osho não exclui absolutamente o Amor do terreno da linguagem, do conhecimento, da comunicação. Afinal, após enunciar isto, ele prossegue a falar sobre o tema. Se fosse impossível, estaria incorrendo em paradoxo. 

Há portanto um caminho, e sua primeira afirmativa nos indica uma direção. Uma linguagem não descritiva, um conhecimento não definitorial, uma comunicação mais expressiva do que significativa. 

De uma certa maneira, pode-se dizer que se trata de deixar de falar sobre o amor, para tentar aprender a falar o amor

Todavia, vem naturalmente uma pergunta: falar o amor é falar com amor, é um ato de amor, é já amar? 

Um juiz de direito exerce jurisdição, isto é, a capacidade de dizer (dicção, dictio) o Direito (jus). Ele diz o justo. Neste caso, dizer o que é justo é agir com justiça. Da primeira justiça, enunciada-praticada pelo juiz, abre-se o campo para a segunda justiça, escutada-praticada pela parte. 

Muita vez, aliás, o próprio juiz (ou a Justiça enquanto instituição) escuta-pratica a própria justiça que enuncia: quando declara alguém o real proprietário de um bem, já confere um documento que certifica esta condição.

O amor parece partilhar desta natureza da justiça. É num ato de profundo amor que a mãe ensina ao seu filho a primeira noção do que é o amar. O amor, como a justiça, também declara (e declara-se). 

Evidentemente, isto não é sinal de uma proveniência necessariamente celestial do amor e da justiça, nem um privilégio  deles e de outras realidades especiais. Talvez do ódio se possa dizer o mesmo: falar o ódio é ja falar odiosamente, é já agir com ódio. 

Contudo, uma coisa é certa - a linguagem denotativa, que aponta para um objeto, que explica significados, não é adequada para o amor nem para realidades a ele assemelhadas. Falar sobre o amor é permanecer distante dele, é afastar-se. Para ele, há que se buscar uma linguagem conotativa, que exprima o objeto em seu próprio enunciar-se, que seja auto-referente, que implique sentidos. Há que falar o amor. 

Com isto, aliás, já se indica um caminho inverso para lidar com realidades como o ódio e a injustiça. Se já as falamos continuamente, com palavras e atos, comecemos afastando-os do nosso discurso, desligando a carga de emotividade, de auto-referência, de polissemia. Falemos sobre o ódio, em vez de falar o ódio. E falemos com amor ao odioso. 


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