Tratado do Desespero e da Beatitude - Introdução: desespero, ateísmo, suicídio, nirvana.

II
1. O ateísmo real exige a prévia crença. E vice-versa.
2. Não mais ser amado, nem amar sequer a si mesmo.
2.1. Compreender que o amor não é nada. Ou que não passa de sua própria ilusão.
2.2. A saúde do corpo é esquecimento. A alma lembra.
3. Aborrecer-se, enfadar-se de algo não é ainda desespero. Não grau zero, mas realidade mínima.

III
1. Suicídio é esperar alívio.
2. Mente-se mais por medo da verdade, não para furtá-la a outrem.
3. Não há nada a perder no desespero. Há um mundo a ganhar, em mim, não eu.

IV
1. Narciso chora, Ícaro voa. O desespero é leve. O feliz nada mais tem a esperar.

V
1. Samsara: somente a dor nasce, somente a dor cessa.
2. Não há deuses, ou nada a esperar deles.
3. Nirvana e samsara: ao mesmo tempo, idêntico e opostos.
3.1. Nirvana não é o contrário de Samsara, mas a sua verdade.
4. Zimmer: a salvação exige a renúncia dela mesma. O budismo leva à renúncia do budismo.
4.1. Atravessar o rio, abandonar a jangada.
4.2. Não há rio, nem jangada. Não há budismo.
5. Tudo é dor. Dor é sede, até da não-sede. O remédio é o desespero.
6. A felicidade segue o ser como uma sombra: imagem invertida.

VI
1. Desespero hodierno: falsas quedas e ascensões abortadas.
2. Não dá pra escolher sua escolha, apenas sua resposta.


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