Para muitos, um marco divisório entre os dois hemisférios culturais do Ocidente e do Oriente está na opção por uma visão de mundo materialista ou
espiritualista. A um olhar primeiro, classificamos o oriente como
derradeiramente espiritualista, ao tempo em que nos afiguramos materialistas,
fazendo disto, inclusive, um argumento a favor da nossa ciência e contra a
deles.
No entanto,
trata-se mais uma vez de um preconceito historiográfico enviesado, de uma
perspectiva unilateral. É claro que a nossa ciência moderna cresceu, em grande
parte, à revelia de especulações de natureza espiritual. Citemos, tão-somente,
o exemplo do grande Laplace. Indagado por Napoleão acerca do motivo de seu
tratado sobre o cosmo não mencionar nenhuma vez o autor do mesmo, ele respondeu
com honestidade: "senhor, eu não precisei considerar esta hipótese".
E o mesmo Laplace afirmou, em outra oportunidade: "se, em dado momento,
conhecermos a posição de todos os objetos do universo e as forças que atuam
sobre eles, poderemos prever, com exatidão, tudo o que sucederá a partir daí: o
passado e o futuro estarão aos nossos olhos".
Entretanto, é
preciso lembrar que se trata somente da ciência ocidental-européia moderna, a
qual, além de não ser a única nem a derradeira, ainda conta em seus quadros com
sujeitos que questionam suas premissas de base. Lembre-se os exemplos de Jung,
Alfred Russel Wallace, William Crookes, e outros mais. E mesmo o grande René
Descartes, cuja doutrina mecanicista forma a visão de mundo da comunidade
científica hodierna, realizou estudos acerca da correlação corpo-mente,
chegando, inclusive, a propor a tese de que a alma se comunicaria com o corpo
através da glândula pineal.
Por isto, não se
está abandonando o patrimônio da ciencia ocidental quando se alia, ao postulado
materialista, o postulado espiritualista. As tarefas apenas se multiplicam.
Abre-se um imenso campo de fenômenos a explorar, e mais hipóteses explicativas
se descortinam. Se é necessário evitar as superstições da explicação
espiritualista ingênua, é igualmente necessário eliminar a as superstições
inconscientes do materialismo clássico ferrenho.
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