2. Não envolve, necessariamente, uma revelação extemporânea: muita vez, sucede-nos uma imagem repentina de conteúdo banal (algo cotidiano ou ordinário), mas pleno de sentido.
3. Para chegar a ela, não há que fazer como os semi-mortos de famoso conto de Kipling, que tentavam subir o Vale e voltar à superfície, mas terminar de morrer para o habitual, entregar-se ao fundo abscôndito do desconhecido. Permitir o novo.
4. Há que estudar e conhecer o ego - para eliminá-lo.
5. O entregar-se à morte sugerido acima difere do moderno desejo de morte, que é escapista: fuga da dureza, das dificuldades e desafios da Vida. Trata-se, antes, não de fugir, mas de promover uma inversão do sentido da experiência habitual. Um aproximar-se verdadeiramente da Vida.
6. Os Antigos viam a vida como um fardo, que se havia de suportar com dignidade. Não sabiam que a morte digna vem de uma vida cheia de Amor. E, quiçá, após a morte, encontravam um ''céu'' bem familiar.
7. Há uma terceira via, entre o querer morrer moderno e o suportar a vida dos Antigos: compreender morte e vida como um fenômeno único. Alcançar esta compreensão é sair da esfera da explicabilidade mediana do cotidiano, e alcançar "o pleno esplendor da psique".
8. Com a Intuição e a verdadeira compreensão da Vida-Morte, brota uma compaixão, uma simpatia telepática pelos da mesma Espécie.
9. Normalmente, passa-se pela fase da captação do Numinoso pelas grades verbais do Intelecto, antes que a pura Intuição possa florescer.
10. Quem se aproxima da Intuição, sente uma certa ânsia pela dilaceração, isto é, por sofrer a passagem de ambiente, por ultrapassar o limiar, realizar a transição.
11. Morte em Vida: mutação plena da consciência. Deixar de ser um ego pretensamente senhor de seus atos e destinos, e tornar-se um processo dentro do processo maior do Universo: uma ''Coisa em Movimento''.
12. Para isto, não se exige uma mudança exterior de Forma ou de estado: trata-se, ao invés, de interiorizar a Evolução na Consciência.
13. O aventureiro destas paragens adquire a ''volúpia do Processo'': uma indiferença inicial aos resultados, ao bem imediatamente passível de advir com a prática. Intuição também é espera.
14. As Leis da Intuição são profundas e paradoxais, inacessíveis à nossa compreensão de aprendiz. Ora ensejam uma violenta tempestade que arranca o viajor da estrada comum dos demais, ora se mostram como um tênue Fio de Ariadne, a reclamar longo e paciente esforço.
15. O Caminho da Intuição requer a adoção de uma certa Filosofia Umbilical, uma percepção de ser e estar em ligação com Algo Maior, com a Vida.
16. Intuição é Ebulição: não se há de achá-la no aforismo já decantado do sábio, que transmite em letra fria o que viveu no calor da alma. Este é o fracasso e o dilema da Religião.
17. No entanto, a Religião é o primeiro passo: tentar escutar o incomunicável sofrivelmente transmitido pelo Sábio ou Profeta, é a porta de entrada para a trilha que ele palmilhou, o convite para também fazer o caminho.
18. Hoje, as Trevas que se abatem sobre o mundo consistem na inércia decorrente do abandono da Religião. Ficou-se aquém dela, aquém do Primeiro Passo.
19. Para alcançar a Intuição, o contato com o Numinoso, a religação com a Vida, há que afastar-se de Casa.
20. Do cotidiano revolvido e absorvido, brota o novo.
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