Enrico
Berti inicia seu estudo magistral sobre “As Razões de Aristóteles” com um
capítulo dedicado à Apodítica e à Dialética – duas maneiras de raciocinar
estudadas minuciosamente pelo velho Estagirita. O primeiro item deste capítulo
se dedica especificamente à “ciência apodítica”.
Berti
recorda, de saída, a clássica definição aristotélica da ciência como hexis apodektikè. A palavra hexis é traduzida, pela maioria dos
autores como hábito (prática reiterada) ou como disposição (tendência de agir).
Berti opta traduzi-la por hábito. Por apodektike
ele entende o adjetivo relativo ao substantivo apodeixeis (demonstração). Logo, hexis apodektikè significa, para ele, hábito demonstrativo.
Ao
postular a ciência como hábito, Aristóteles consigna o caráter de repetição ou
continuidade do labor científico, da práxis investigativa do cientista. É claro
que, eventualmente, cada um de nós pode efetuar uma observação naturalista
acertada, uma descoberta astronômica ou um inferência geométrica imediata.
Todavia, para merecer o nome de cientista, há que se realizar estas condutas de
maneira sistemática e permanente.
Por
outro lado, a ciência não consiste em qualquer hábito. Nem mesmo em qualquer
hábito cognitivo.
A busca persistente por conhecimentos não torna ninguém
cientista. Um ávido leitor pode passar a vida inteira acumulando informação
sobre determinado campo do saber, sem que com isto ele se torne um homem de
ciência.
Da
mesma forma, o homem da praxis, como
o médico comum, pode exercer o seu ofício terapêutico a vida toda, sem que as
descobertas que ele faça o tornem um cientista da medicina.
Para
Aristóteles, o hábito teórico que faz o cientista é o hábito de demonstrar. Demonstrar significa
concluir a partir de princípios ou premissas, seja prospectivamente, retirando
as conclusões implícitas em um conjunto de princípios ou premissas
estabelecidas, seja provando a validade de uma hipótese pela sua vinculação
dedutiva a um princípio já firmado como válido naquele campo de conhecimento.
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