Conceitos Fundamentais da Metafísica - 3a forma do tédio: o ser banido do horizonte uno e triplo do Tempo

Segundo Heidegger, a serenidade vazia do tédio profundo é uma recusa do ente na totalidade. Esta recusa ampla e radical tem uma íntima relação com a temporalidade existencial do Dasein, como se verá a seguir.
Recusar-se é furtar-se ‘aos olhos’ do ser-aí. O ente, no tédio, se vela completamente. Nada resta para pensar, ou não pensar, para fazer ou não fazer, para querer ou repulsar.
Neste retrair-se de tudo, o olhar não capta nenhum aspecto do que está aí – lançado como Dasein no mundo compartilado, dado como Vorhandenheit (ser simplesmente dado), ou disponibilizado como manual (Zuhandenheit). Tudo escapa aos olhos.
Restaria, em tese, a possibilidade de acessar o ente na totalidade a partir da abertura temporal retrospectiva, pela consideração do passado. Todavia, este também se recusa.
De igual sorte, poderia restar incólume a alternativa de mirar intencionalmente a possibilidade, o que ainda propriamente não é aí, o que está lançado adiante em face do Dasein. Porém, também as possibilidades se eclipsam na total nulidade de tudo.
Assim postas as coisas, resulta que nem a visada do aspecto, nem a mirada da consideração, nem a antevisão da intenção estão acessíveis neste total fechamento, nesta radical recusa. A serenidade vazia se traduz num banimento do Dasein em face de todo ente.
Esta recusa, porém, ao tocar o ser-aí em sua nudez, desvela numa unidade o horizonte triplo do tempo: o passado não considerável, o presente não aspectável, o futuro não intencionável. Esta recusa una, ao negar esta triplicidade existencial mostra a unidade do tempo como horizonte, ainda que, segundo Heidegger, seja preciso elucidar o que é, ontologicamente, este tal de horizonte, e se a aparição fenomenológica do tempo como horizonte não seja, em verdade, uma aparência ou impropriedade.
Em todo caso, ainda que, para além do horizonte de sua aparição, o tempo se revele algo distinto desta unidade tripla, o fato é que ele se mostra, isto é, se fenomenaliza, desta maneira. E este fenômeno é verdadeiro, no sentido em que o é todo fenômeno enquanto um mostrar-se – ainda que o seu mostrar-se co-implique o velar-se doutra coisa.  


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