A querela entre
a moeda como signo e como mercadoria é efeito possibilitado pela disposição
mais ampla que a coloca como garantia. Isto já se acha em Locke. As riquezas de
confiança ou opinião.
Dizer que a
moeda é uma garantia é dizer que foi recebida com consentimento comum, pura
ficcção; mas, também, que ela foi dada e poderá ser trocada pela mesma
quantidade de mercadoria ou ser equivalente. A moeda permitiria, nesta
perspectiva, esta segurança.
Ela, ainda, pode
reconduzir sempre ao seu proprietário, o que acaba de ser trocado por ela,
assim como na representação, um signo deve poder reconduzir o pensamento àquilo
que ele representa.
A moeda é uma
sólida memória, uma representação que se duplica, uma troca adiada. Um comercio
imperfeito, um ato ao qual falta, durante muito tempo, aquilo que o compensa,
uma semi-operação que promete e espera a ordem inversa pela qual a garantia se
verá reconvertida em seu conteúdo efetivo.
O que lhe dá
essa segurança, que lhe faz escapar do dilema do signo sem valor ou da
mercadoria análoga a todas, é o ponto de heresia. Ou a operação é assegurada
pelo valor mercantil da matéria, ou a mercadoria é a ela exterior mas a ela
ligada pelo consentimento coletivo ou do príncipe(Law), que escolhe implantar a
moeda de papel garantida pela propriedade, bilhetes hipotecados.
Do fracasso do
sistema de Law, voltou-se à moeda metálica. Para Turgot, a marca do príncipe só
certifica o preço e o título. O ouro seria medida e mercadoria. Entre Law e seus
críticos está a distancia de quem dá a garantia e quem a recebe, mais
abundancia versus menos especulação.
Em todo caso, a
moeda ainda tem aí uma proporção com as coisas, e o poder de as fazer circular.
O poder
representativo e de análise sa moeda é atrelado à quantidade de riquezas e de
espécies. Não pelo valor do metal, mas pela necessidade representativa. Mais
bens, a moeda representa qtde maior; mais moeda, o inverso.
A lei quantitativa
de Locke difere da de Bodin. Não há justo preço; novos bens interferem no preço
de todos. O preço módico não é menos exato do que o elevado. Mas é impossível
que a moeda exista em qtde igual à dos bens, como a cédula; ela se refere a
diversos bens simultaneamente, assim como o nome comum a várias coisas, ou um
caráter taxonômico a varias espécies e gêneros.
Todo gênero se
generaliza tornando-se mais simples. De igual forma, a moeda só representa mais
riquezas se circular mais rápido. Ali, o número de espécies, aqui o de mãos.
Daí a origem no pagamento à agricultura. À extensão taxonômica do caráter no
espaço simultâneo no quadro corresponde a velocidade do movimento monetário durante
um tempo definido.
Esta velocidade
tem dois limites: infinitamente rápida, a da troca imediata na qual a moeda não
teria papel, e infinitamente lenta, em que cada riqueza teria seu duplo
monetário, a depender da quantidade de moeda.
No séc. XVIII,
se ligam as análises da circulação a partir dos rendimentos agrícolas, o
problema do desenvolvimento da população e o cálculo da qtde ótima de espécies
monetizadas.
O problema, a
esta altura, não é o da acumulação e/ou dispêndio (pois este pressupõe as
questões da produção e do capital), mas a qtde necessária para uma circulação
extensa e veloz, não justa, mas ajustada, nem frouxa nem cerrada.
A qtde de moedas
era calculada segundo as rendas do agricultor: a que paga ao proprietário, a da
manutenção de si e dos seus; a de investimento; a do meio pode ser em trocas,
basta 2/3 de moeda face à produção; mas os pgtos são 4 vezes ao ano, logo 1/6
basta, etc. Mas os países não estão isolados e, “a excessiva abundancia de
dinheiro que faz, enquanto dura, a potencia dos Estados, lança-os na
indigência.” Logo, deve-se ter menos moeda que o outro para atrair dinheiro estrangeiro.
Mas essa
oscilação é detida pelo movimento contrário dos homens; estes vão em direção
aos salários mais altos. Se os dois ritmos forem iguais os salários não sobem
mais que a riqueza, e sem interrupção, para haver mão de obra. A moeda tb tem
que aumentar, para aumentar a retribuição. Mas, sem a composição, há a falência,
como na Espanha, em que as minas aumentavam muito o numerário e com ele os
preços sem puxar a produção e o salário.
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