Gerd Borheim - Dialética: teoria e práxis 1 - Dialética, de solução pacificadora a contestação problemática

Em uma nota preliminar ao seu majestoso estudo sobre a Dialética ocidental, Gerd Bornheim inicia recordando a inesgotabilidade da filosofia. Trata-se de uma idéia aparentemente evidente; mas, em um panorama como o atual, no qual vicejam panfletos alegando ou propondo o fim da Filosofia, ela constitui um lembrete sempre oportuno.

Bornheim justifica esta fecundidade inesgotável indicando que a filosofia é “a prosa do mundo”, o mundo tornado palavra e discurso, a escuta da mensagem silente do real.

Entretanto, para escutar esta realidade, para trazê-la à palavra, é preciso um modo de dizer que seja coetâneo a ela, adequado para a tarefa que se propõe. Um dos melhores candidatos a isto é a Dialética.

Outrora considerada como uma arte do diálogo, como uma instância de pacificação, como uma conciliação dos contrários, eis que agora ela se muda em uma potência de contestação, de crítica, de questionamento de falsas concepções da realidade, bem como de realidades humanas falseadores da verdade profunda do real.


Isto, porém, torna a dialética novamente um problema. Ela deixa de ser uma constância dialógica através da qual renovadas apreensões da realidade se configuram e se exprimem. E passa a ser sempre outra a cada nova mão que a acolhe e trata, de modo que Bornheim conclui com uma esclarecedora sentença de Nietzsche: “A novidade em nossa posição é a convicção estranha de que não temos a verdade. No passado, os homens a tinham, mesmo os céticos”.

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