A
doutrina da imediateidade do Noûs, o
seu caráter de intelecção direta do real, costuma levar a mal-entendidos
relativos ao grau de facilidade ou dificuldade em exercê-lo adequadamente.
Costuma-se pensar que toda imediatez implica ausência de esforço, naturalidade,
espontaneidade, fulguração pura e simples da verdade.
Com
isto, julga-se que todo esforço intelectivo metódico pertença a um tipo de
saber secundário, derivado, em face do qual o saber de origem noética teria sempre
a primazia.
Mais
do que isto, crê-se que basta a pura atitude de expectação passiva para irrupções
reveladoras descortinem o Noûs na
forma de um pacote de verdades novas, como as manchetes de um jornal.
Trata-se,
contudo, de um severo engano. O acesso à intelecção direta do real, em
determinado campo do conhecimento (seja o da culinária, seja o da arte militar,
seja o da filosofia primeira), há que se precedido por uma preparação adequada.
Até
mesmo o escravo analfabeto, que Sócrates faz descobrir axiomas da geometria no Mênon de Platão, só o fez após ser
preparado pelas perguntas adequadas que reelaboraram sua compreensão prévia
daqueles elementos cujas relações fundamentais ele passou a inteligir após esta
preparação.
Um
exemplo da relação entre o logós e o noûs, no sentido da preparação que
aquele é capaz de ensejar à irrupção deste, pode ser encontrado numa famosa
asserção de Albert Einstein: “penso noventa e nove vezes, e nada descubro; paro de pensar, e eis que a
verdade me é revelada”.
O
grande físico sabia da relação entre o esoforço intelectivo prévio, que explora
todas as possibilidades de um problema, e a irrupção da nova compreensão
resolutora, que desvenda o enigma então posto.
Sem
o preparo adequado do logos apodektekos
(que, no caso indicado por Einstein, não chegou a conclusões, mas quedou
paralisado em impasses ou aporias) o noûs não irrompe.
Indagado
sobre como descobriu a Lei da Gravitação Universal, Newton respondeu: “pensando
nela”.
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