Depois
de determinados os princípios próprios e comuns da ciência, Aristóteles procura
estabelecer uma condição de empregabilidade dos princípios. Isto é de suma
importância, na medida em que se poderia pensar que a validade de um princípio
pertencente a uma ciência específica poderia ser mantida quando da extensão
deste princípio a outros domínios científicos.
Para
Aristóteles, isto não pode ser feito. Os princípios de uma ciência não podem
ser aplicados indiscriminadamente para outras ciências. Os princípios dos quais
parte o estudo da alma humana não podem ser os mesmo da análise da constituição
das estrelas ou das propriedades dos discursos.
Lembre-se
que Aristóteles estudou todas estas ciências; se houvesse a possibilidade da
extensão analógica ou mesmo literal de tais princípios, ele seria o primeiro a
lançar mão deste recurso.
Portanto,
não é possível exercer aquilo que Aristóteles denominou metabasis, isto é, a extensão indiscriminada dos princípios de uma
ciência a outra. Meta, transposição,
deslocamento de... para...; basis,
fundamento, princípio, ponto de partida.
Certamente,
não se trata de uma impossibilidade absoluta. Em estudos anteriores, demos o
exemplo da relação entre biologia e medicina, na qual as conclusões da medicina
podem ser princípios da biologia. Em casos desta natureza, Aristóteles admite
não apenas o transplante de conclusões ao modo de princípios, mas a adoção
consciente dos princípios da ciência fundante na ciência aplicada: os princípios
da aritmética dos números entrarão no conjunto dos princípios da aritmética dos
materiais da Engenharia.
Assim,
a vedação da metábase se aplica a gêneros
distintos, àquilo que hoje denominamos, à esteira da fenomenologia e da
ontologia contemporâneas, de regiões ônticas ou objectuais.
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