As Razões de Aristóteles 8 - A proibição da metábasis

Depois de determinados os princípios próprios e comuns da ciência, Aristóteles procura estabelecer uma condição de empregabilidade dos princípios. Isto é de suma importância, na medida em que se poderia pensar que a validade de um princípio pertencente a uma ciência específica poderia ser mantida quando da extensão deste princípio a outros domínios científicos.

Para Aristóteles, isto não pode ser feito. Os princípios de uma ciência não podem ser aplicados indiscriminadamente para outras ciências. Os princípios dos quais parte o estudo da alma humana não podem ser os mesmo da análise da constituição das estrelas ou das propriedades dos discursos.

Lembre-se que Aristóteles estudou todas estas ciências; se houvesse a possibilidade da extensão analógica ou mesmo literal de tais princípios, ele seria o primeiro a lançar mão deste recurso.

Portanto, não é possível exercer aquilo que Aristóteles denominou metabasis, isto é, a extensão indiscriminada dos princípios de uma ciência a outra. Meta, transposição, deslocamento de... para...; basis, fundamento, princípio, ponto de partida.

Certamente, não se trata de uma impossibilidade absoluta. Em estudos anteriores, demos o exemplo da relação entre biologia e medicina, na qual as conclusões da medicina podem ser princípios da biologia. Em casos desta natureza, Aristóteles admite não apenas o transplante de conclusões ao modo de princípios, mas a adoção consciente dos princípios da ciência fundante na ciência aplicada: os princípios da aritmética dos números entrarão no conjunto dos princípios da aritmética dos materiais da Engenharia.


Assim, a vedação da metábase se aplica a gêneros distintos, àquilo que hoje denominamos, à esteira da fenomenologia e da ontologia contemporâneas, de regiões ônticas ou objectuais. 

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