As Razões de Aristóteles 10 - Toda ciência demonstrativa é particular

Uma outra importantíssima consequência, para Aristóteles, da proibição da metábase entre ciências pertencentes a gêneros diferentes, é a seguinte: toda ciência demonstrativa é particular.

Não é preciso muito esforço para compreender esta afirmação. Demonstrar é sempre concluir a partir de princípios. Os princípios são mais gerais e mais conhecidos que as conclusões. Logo (e isto é uma conclusa), as conclusões são mais particulares.

Concluir é acabar na coisa investigada. Investigar é partir da realidade em geral, de uma verdade geral aceita.

Assim, demonstrar é particularizar. Quando uma demonstração parece ser a extração de um princípio mais geral, na verdade se está diante de uma verificação retrospectiva: o raciocínio hipotético já se fez antes. E sempre antes de algo que se quer demonstrar ser causa ou princípio de algo particular, há um princípio mais geral ainda.

Não é possível, pois, haver uma ciência demonstrativa do universal. Afinal, se possível fosse, seria o caso de se tirar conclusões mais gerais de premissas mais particulares. Na asa de um mosquito está todo o universo, é verdade. Mas não porque ela seja premissa da qual o universo seja conclusão, e sim porque a asa de mosquito é um texto, um discurso complexo e conclusivo que pode ser destrinchado em uma série quase infindável de premissas fundamentais: o universo.


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