Após
indicar alguns dos elementos comuns aos prefácios filosóficos tradicionais,
Hegel aponta o defeito comum de tais elementos, reconhecido, inclusive, por
muitos filósofos: a exterioridade, particularidade ou contingência. E
acrescenta, em seguida, que o elemento próprio da Filosofia consiste no
universal, que inclui em si o particular e o supera.
Porém,
como entender esta particularidade? No sentido de que avaliação de fins,
análise de resultados, comparação com filosofias concorrentes ou descrição do ponto
de vista constituem coisas que não pertencem propriamente ao cerne de uma
filosofia, e não deviam fazer parte de sua apresentação.
Quer
dizer que tais coisas não deviam existir? Obviamente que não é este o caso.
Tudo isto devia ser tarefa de artigos filosóficos, obras de historiografia,
salas de aula, palestras públicas ou resenhas em periódicos especializados. O
próprio Hegel foi professor de classes regulares, editor de periódicos e
conferencista. Não seria ele que descuidaria do valor destas complementaridades.
Trata-se, apenas, de entender que elas não devem adentrar o sistema filosófico
nem habitar a obra-magna que o apresenta.
Ao
contrário disto, a exposição do universal, do conceito propriamente filosófico,
é que consiste na missão própria de uma obra filosófica. O sistema filosófico é
sua melhor introdução e sua melhor explicação. Um sistema científico, ao revés,
carece de toda uma preparação prévia, por meio de obras de facilitação,
disciplinas iniciais, e coisas do tipo.
Um
sistema especulativamente desenvolvido, inclusive, há de refletir acerca da
relação que ele próprio mantém com o pensar não filosófico e com o pensar
filosófico não especulativo, de modo que uma tal meditação representará a
melhor forma de introduzir a um tal sistema.
Outras
não serão a intenção e a execução de Hegel neste Prefácio.
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