Apesar
da poderosa máquina demonstrativa construída por Aristóteles se destinar a
orientar a segura catalogação de conclusões, demonstrações, inferências, e
apesar de ele garantir a não demonstrabilidade dos princípios, eis que a
análise das propriedades das premissas não escaparia ao nosso filósofo.
Neste
sentido, Enrico Berti apresenta as condições que devem ser exibidas pelas
proposições que se candidatam ao papel de premissas em quaisquer disciplinas
científicas. Elas devem ser verdadeiras, anteriores, imediatas, mais
conhecidas, anteriores e causas da conclusão. Analisemos cada uma dessas
condições.
A
primeira de todas é a mais óbvia. Há que se partir de premissas verdadeiras,
pois, se se partir de premissas falsas, duas possibilidades se manifestam: a)
ou as conclusões serão falsas; b) ou as conclusões são verdadeiras, mas não
decorrentes das premissas, de modo que a demonstração é inválida, e o acesso às
conclusões contingente, casual, e portanto, não científico.
As
premissas devem ser primeiras. A premissa da necessária soma dos ângulos
internos de um triângulo precede a formulação das equações que se destinam a
calcular o valor de um ângulo a partir dos outros dois.
As
premissas devem ser imediatas. Uma premissa mediata seria aquela conhecível a
partir de outra premissa. Se isto ocorrer, esta segunda premissa é que merece
verdadeiramente este nome. Efetivamente, há interligações entre campos do
saber, de modo que a conclusão de uma ciência pode ser a premissa de outra. Por
exemplo, conclusões da biologia, premissas da medicina. Ou então, a conclusão
de uma ciência pode ser premissa para um campo da práxis ou da poiesis:
conclusão da eletrodinâmica, princípio da eletrotécnica.
As
premissas devem ser mais conhecidas. O caminho do conhecimento deve se dar do
mais conhecido para o menos conhecido. Conhecer o mais obscuro para depois o
mais claro é insensato, pois o mais claro não precisa de clarificação – ou, se
necessita em algum aspecto, o será a partir de algo mais claro ainda, não do
obscuro. A estratégia ordinária do conhecer é lançar luz já obtida sobre o que
necessita de esclarecimento.
As
premissas devem ser anteriores: a noção de triângulo precede a de escaleno,
isóceles ou equilátero. Obviamente, se aprende na lógica a inferência imediata
do maior para o menor, do tipo: todo cavalo branco é um cavalo. Mas este tipo
de proposição não aumenta o nosso conhecimento; apenas, se for o caso, aumenta
o grau de clareza sobre ele; e, em boa parte das vezes, é candente
desnecessidade.
Por
fim, as premissas devem ser causas da conclusão. Não é preciso arrolar a
conjuntura política vigente ao tempo do plantio para ajuizar do sucesso ou do
fracasso de uma safra. Uma anterioridade irrelevante não é uma premissa
autêntica.
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