Para
além dos princípios próprios (definições e pressuposições), as ciências também
possuiriam, para Aristóteles, uma série de princípios comuns, denominados axiomas.
Diferentemente
dos princípios próprios, que são postulados,
isto é, admitidos por verdadeiros para verificar-se ao final se de fato o são,
os axiomas possuem a particularidade de serem verdades reconhecidas de antemão.
Vejamos
um exemplo. Aristóteles começa a Ética a Nicômaco com uma afirmação: toda arte
e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, têm por fim alguma
espécie bem. Depois desta ele ajunta: se diz, com razão, que o bem é o fim de
todas as coisas.
A
princípio, as duas parecem ser afirmações do mesmo nível ou da mesma natureza.
Ambas tomam por evidente, ou parecem tomar, duas verdades reconhecíveis por
todos os interlocutores de Aristóteles.
Todavia,
no primeiro caso, trata-se de uma pressuposição: embora a construção explícita
não seja esta, Aristóteles nos pede: “considere que toda arte e toda
investigação, toda ação e toda escolha têm por fim um bem”. Em outras palavras:
“partamos da premissa de que...”.
Já
a segunda afirmação, além de mais sintética, é mais universal: o bem é o fim de
todas as coisas. E um olhar mais atento mostra que ela condiciona a primeira: é
por o bem ser o fim de tudo que, dentre todas as coisas, aquelas quatro
indicadas por Aristóteles também tendem ao bem como fim.
Ademais,
note-se que Aristóteles toma esta proposição como verdade assente: “por isto se
diz...”. Ela é uma verdade reconhecida, ao passo que a outra afirmação é uma
proposição que pede reconhecimento.
A
tradução literal da palavra axioma é
“dignidade”. Axiomas são verdades nobres, respeitáveis, como um homem nobre ou
de estirpe. Elas são consideradas princípios comuns no sentido de que são
justamente reconhecidas por todos, e não no sentido de popular, não-nobre,
vulgar. Uma ciência não pode começar por uma verdade qualquer.
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