Fenomenologia do Espírito - Prefácio 2 - Por que Prefácio ao Sistema da Ciência?

Aquele que inicia a leitura da Fenomenologia do Espírito sem uma atenção prévia ao seu prefácio não se dá conta de que, ali, Hegel não está somente efetuando considerações apresentativas desta obra em si mesma, mas de uma totalidade maior da qual a Fenomenologia faz parte.

Um olhar mais detido já levanta a suspeita em pleno título: “Prefácio ao Sistema da Ciência”. Quando da sua publicação, a Fenomenologia do Espírito constituía, para o próprio Hegel, a primeira parte de um Sistema, o “Sistema da Ciência”.

Trata-se, a rigor, não de um Sistema científico tradicional, nem de um sistema meta-científico (como pretendeu ser o Positivismo), mas de um Sistema de Ciência enquanto Filosofia Especulativa, ou Sistema de Ciências Filosóficas.

Com o passar do tempo, no entanto, a compreensão do próprio Hegel a respeito do papel que a Fenomenologia do Espírito ocupa em seu Sistema mudou significativamente. Ela deixou de ser vista como uma introdução geral à sua obra, uma obra de imersão da consciência não-filosófica no elemento especulativo que dará a tônica do Sistema como um todo.

Hegel passa, então, a considerá-la como a primeira parte da “Filosofia do Espírito”, mais especificamente, de seu segundo momento, o Espírito Subjetivo. E a própria Filosofia do Espírito é já a terceira parte do Sistema, à qual antecede uma Lógica e uma Filosofia da Natureza.

Há, no entanto, diversas explicações para esta mudança de perspectiva. E, em verdade, ela não altera drasticamente o modo como a obra deve ser meditada em si mesma. Pode-se dizer, por exemplo, que a Fenomenologia é a introdução histórica ao Sistema, entendida a história no sentido especulativo, enquanto Evolução do Espírito no Tempo.

Assim, já que o homem, na perspectiva hegeliana, possui, na sua consciência particular, um momento do Espírito Subjetivo, eis que é pela Fenomenologia que ele deve adentrar a compreensão do Sistema da Ciência.

Somente então, quando a consciência já alcançou o Espírito Absoluto na forma do Saber Absoluto (o que acontece ao final da Fenomenologia), é que ele poderá recomeçar a apreensão especulativa do Sistema como um todo, a partir da Lógica, que é o seu primeiro momento estrutural.

De certa forma, o Sistema da Ciência proposto por Hegel constitui uma espécie de unidade especulativa, na qual cada momento pode ser considerado como princípio e fim, como na famosa máxima de Heráclito de Éfeso: “igual é o princípio e o fim na periferia do círculo”.

Em todo caso, o Prefácio da Fenomenologia constitui uma apresentação do plano geral do Sistema, ainda que sem a descrição pormenorizada dos momentos pretendidos, e sim com o esclarecimento relativo à natureza do pensamento especulativo necessário para realizar esta imensa empreitada.


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