Hegel
decide iniciar o seu Prefácio ao Sistema da Ciência com uma reflexão acerca da
natureza dos prefácios filosóficos. Parece uma consideração introdutória
extrínseca, mas se trata, em verdade, de uma indicação a respeito do modo não
especulativo de pensar, que permite coisas tais como a indiferença entre o
conteúdo de um sistema filosófico e a forma com que se há de apresentá-lo.
Assim,
ele começa por uma leve ironia, dizendo que uma exposição, destas que se
costuma antepor num prefácio, sobre os fins da obra, suas relações com outras
anteriores ou contemporâneas, sobre os resultados atingidos ou o ponto de vista
geral parecem constituir coisas desnecessárias a uma filosofia.
O
interessante é que ele, de fato, concorda em essência com esta posição. Todavia,
ele empreende uma (mui longa, por sinal) apresentação a título de Prefácio. Isto
poderia sugerir que ele acabou cedendo ao modelo geral vigente, ou que ele
incorreu no mesmo erro dos seus pares.
Ocorre,
porém, que o objetivo de Hegel é justamente aproveitar o ensejo de um Prefácio
para, mediante um diagnostico da superficialidade e não especulatividade dos
prefácios tradicionais, apontar para atitude metódica correta para se adentrar
um Sistema Filosófico, bem como o modo correto de exprimir tal sistema para que
os neófitos possam avizinhar-se filosoficamente dele.
Em
outras palavras, se ele passa boa parte do prefácio dizendo como não deve ser um prefácio, isto
acontece porque ele tem em mira dizer o
que o pensamento especulativo não é e, consequentemente, já colocar o
leitor diante do universo conceptual necessário para acompanhar o
desenvolvimento da argumentação dialética empreendida na Fenomenologia.
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