Fenomenologia do Espírito 3 - A exposição tradicional da verdade filosófica

Hegel decide iniciar o seu Prefácio ao Sistema da Ciência com uma reflexão acerca da natureza dos prefácios filosóficos. Parece uma consideração introdutória extrínseca, mas se trata, em verdade, de uma indicação a respeito do modo não especulativo de pensar, que permite coisas tais como a indiferença entre o conteúdo de um sistema filosófico e a forma com que se há de apresentá-lo.

Assim, ele começa por uma leve ironia, dizendo que uma exposição, destas que se costuma antepor num prefácio, sobre os fins da obra, suas relações com outras anteriores ou contemporâneas, sobre os resultados atingidos ou o ponto de vista geral parecem constituir coisas desnecessárias a uma filosofia.

O interessante é que ele, de fato, concorda em essência com esta posição. Todavia, ele empreende uma (mui longa, por sinal) apresentação a título de Prefácio. Isto poderia sugerir que ele acabou cedendo ao modelo geral vigente, ou que ele incorreu no mesmo erro dos seus pares.

Ocorre, porém, que o objetivo de Hegel é justamente aproveitar o ensejo de um Prefácio para, mediante um diagnostico da superficialidade e não especulatividade dos prefácios tradicionais, apontar para atitude metódica correta para se adentrar um Sistema Filosófico, bem como o modo correto de exprimir tal sistema para que os neófitos possam avizinhar-se filosoficamente dele.


Em outras palavras, se ele passa boa parte do prefácio dizendo como não deve ser um prefácio, isto acontece porque ele tem em mira dizer o que o pensamento especulativo não é e, consequentemente, já colocar o leitor diante do universo conceptual necessário para acompanhar o desenvolvimento da argumentação dialética empreendida na Fenomenologia. 

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