As Razões de Aristóteles 9 - Impossibilidade de uma ciência universal dos axiomas

A proibição da metabasis, vista no estudo anterior, para além da limitação do exercício axiomático do cientista, possui uma outra consequência marcante nos quadros do aristotelismo: a impossibilidade de uma ciência universal dos princípios comuns.

Diante da existência de princípios comuns, seria natural a busca por um conjunto de princípios comuns a tudo – da forma das conchas à velocidade das galáxias.

Na ciência moderna, algumas leis pareciam candidatas a uma tarefa desta magnitude. Os homens dos séculos de Galileu e Voltaire se extasiavam com a Gravitação de Newton que, em sua dupla simplicidade, axiomática e postulatória, regulava da queda de maçãs nas cabeças de distraídos pensadores ao rodopio incessante de rosários de planetas em redor de lantejoulas estelares.

Mais adiante, o Positivismo de Comte pretendia que esta mesma Fisica fosse a ciência mãe de todas as outras, de modo que toas as ciências emergiriam por aplicações sucessivas de princípios de ciências anteriores, num compartilhamento de princípios que faria da Sociologia, por exemplo, uma Física Social – não faltando quem procurasse verdadeiros equivalentes morfo-sociais de estruturas e leis da realidade fenomênica material.

Para Aristóteles, no entanto, isto não seria possível. Para além dos axiomas comuns, toda ciência tem definições e postulados próprios, o que já impermitiria uma ciência universal. Além disso, os axiomas comuns o são sempre em função dos gêneros, de modo que jamais poderá haver um gênero de todos os gêneros.


Aliás, a filosofia primeira (que depois se intitulou Metafísica), dedicada ao estudo do ser enquanto ser, só é possível porque ‘ser’, apesar de universal (katholou), não é um gênero (genos), segundo o estagirita.  

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