A
proibição da metabasis, vista no
estudo anterior, para além da limitação do exercício axiomático do cientista,
possui uma outra consequência marcante nos quadros do aristotelismo: a
impossibilidade de uma ciência universal dos princípios comuns.
Diante
da existência de princípios comuns, seria natural a busca por um conjunto de
princípios comuns a tudo – da forma das conchas à velocidade das galáxias.
Na
ciência moderna, algumas leis pareciam candidatas a uma tarefa desta magnitude.
Os homens dos séculos de Galileu e Voltaire se extasiavam com a Gravitação de
Newton que, em sua dupla simplicidade, axiomática e postulatória, regulava da
queda de maçãs nas cabeças de distraídos pensadores ao rodopio incessante de rosários
de planetas em redor de lantejoulas estelares.
Mais
adiante, o Positivismo de Comte pretendia que esta mesma Fisica fosse a ciência
mãe de todas as outras, de modo que toas as ciências emergiriam por aplicações
sucessivas de princípios de ciências anteriores, num compartilhamento de
princípios que faria da Sociologia, por exemplo, uma Física Social – não
faltando quem procurasse verdadeiros equivalentes morfo-sociais de estruturas e
leis da realidade fenomênica material.
Para
Aristóteles, no entanto, isto não seria possível. Para além dos axiomas comuns,
toda ciência tem definições e postulados próprios, o que já impermitiria uma
ciência universal. Além disso, os axiomas comuns o são sempre em função dos
gêneros, de modo que jamais poderá haver um gênero de todos os gêneros.
Aliás,
a filosofia primeira (que depois se intitulou Metafísica), dedicada ao estudo
do ser enquanto ser, só é possível porque ‘ser’, apesar de universal (katholou),
não é um gênero (genos), segundo o estagirita.
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