Para
além do logos apedektikos, da razão
demonstrativa, existe, para Aristóteles, uma outra faculdade cognoscitiva
humana: o noûs, ou inteligência.
Alguns
diriam inteligência intuitiva, mas
este adjetivo possui, nas línguas modernas, uma conotação muito próxima de uma
idéia mística, de uma captação de verdades ocultas ou segredos inefáveis, de
presciência do futuro ou aguda retrospecção.
A
inteligência de Aristóteles é a capacidade de inteligir o real, de captá-lo, de
compreendê-lo diretamente.
Não
se confunde também com o atual conceito de inteligência, que é uma grandeza
intensiva, passiva de graus, e que é entendida como uma agudeza mental, uma
aptidão inata ou adquirida (conforme a teoria), que permite aprender
passivamente e descobrir ativamente com facilidade.
Em
contrapartida, o noûs aristotélico pode ser tanto a sacada do geômetra que se
depara com uma verdade geométrica evidente e não derivável de nenhuma outra,
quanto do marceneiro experiente que, deparando pela primeira vez com uma
espécie de árvore em uma terra distante, percebe com clareza inequívoca se ela
serve para fazer móveis, estátuas, para lenha, ou para nada disso.
Mas
por que esta ciência deve ser adjetivada como não apodítica? Lembre-se que a
ciência apodítica é aquela que obtém conclusões a partir de premissas, que são
princípios comuns (axiomas) ou princípios próprios (definições e
pressuposições). A inteligência se distingue do raciocínio: quando ela capta a
realidade, o faz diretamente, e não através da intermediação de uma outra
verdade já sabida.
Em
outras palavras, ela é uma espécie de iluminação súbita, e não um
esclarecimento.
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