As Razões de Aristóteles 13 - A ciência não apodítica, ou Inteligência

Para além do logos apedektikos, da razão demonstrativa, existe, para Aristóteles, uma outra faculdade cognoscitiva humana: o noûs, ou inteligência.

Alguns diriam inteligência intuitiva, mas este adjetivo possui, nas línguas modernas, uma conotação muito próxima de uma idéia mística, de uma captação de verdades ocultas ou segredos inefáveis, de presciência do futuro ou aguda retrospecção.

A inteligência de Aristóteles é a capacidade de inteligir o real, de captá-lo, de compreendê-lo diretamente.

Não se confunde também com o atual conceito de inteligência, que é uma grandeza intensiva, passiva de graus, e que é entendida como uma agudeza mental, uma aptidão inata ou adquirida (conforme a teoria), que permite aprender passivamente e descobrir ativamente com facilidade.

Em contrapartida, o noûs aristotélico pode ser tanto a sacada do geômetra que se depara com uma verdade geométrica evidente e não derivável de nenhuma outra, quanto do marceneiro experiente que, deparando pela primeira vez com uma espécie de árvore em uma terra distante, percebe com clareza inequívoca se ela serve para fazer móveis, estátuas, para lenha, ou para nada disso.

Mas por que esta ciência deve ser adjetivada como não apodítica? Lembre-se que a ciência apodítica é aquela que obtém conclusões a partir de premissas, que são princípios comuns (axiomas) ou princípios próprios (definições e pressuposições). A inteligência se distingue do raciocínio: quando ela capta a realidade, o faz diretamente, e não através da intermediação de uma outra verdade já sabida.


Em outras palavras, ela é uma espécie de iluminação súbita, e não um esclarecimento. 

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