Segundo Foucault, a teoria
clássica da moeda e do comércio estuda o mecanismo pelo qual as riquezas se
representam entre si (tendo o metal como representante universal); a teoria do
valor indaga verticalmente, nesta região de trocas, porque os objetos do desejo
e da necessidade hão de ser representados, como se estabelece o valor de uma
coisa.
Valer, para os clássicos, é valer
algo, poder substituí-lo num processo de troca. A moeda só foi inventada, e os
preços fixados e mudados porque a troca existe.
Só se trocam coisas porque cada
parte vê valor no que a outra possui; e o que cada um utiliza não tem valor
enquanto não é cedido, e o desnecessário enquanto não for usado na aquisição
duma necessidade.
Assim, para que numa troca uma
coisa represente outra, é preciso que já tenham valor em si; mas, o valor só
existe dentro da representação(atual ou possível), na permutabilidade. Daí se
pode ler o valor durante ou antes da troca. No 1o caso, uma análise
que coloca toda a essência da linguagem no interior da representação; na outra,
uma análise que põe essa essência do lado das designações primitivas, linguagem
de ação ou de raiz.
Na primeira alternativa, a língua
é possível na atribuição assegurara pelo verbo, tornando possíveis todas as palavras através do
liame proposicional. Isto equivale à troca que funda o valor das coisas
trocadas e o preço na qual são cedidas.
Na outra alternativa, a língua
está fora de si, na natureza ou na analogia das coisas; a raiz, 1o
grito que origina a as palavras antes mesmo da língua, equivale à formação
imediata do valor e antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.
Mas, para a gramática, as duas
formas de análise se distinguem; a proposição e a designação correspondem ao
designar e ao julgar, em relação tanto com um objeto quanto com uma verdade.
Tal distinção, porém, inexiste na
economia, onde o desejo, ao dirigir-se a um objeto, já a afirma-o desejável;
designá-lo é já fixar o liame.
Não há aí, ainda, uma única
teoria que analisa tanto o valor de uso quanto o de troca. Há sim, entre eles
um ponto de heresia, que separa a teoria psicológica de Condillac, Galiani,
Graslin, da fisiocracia. Nenhuma das duas escolas fundou a economia política;
elas diferem no ponto de origem e direção, mas numa rede de necessidade
idêntica.
Para os fisiocratas, o fruto de
que tenho fome é um bem; só haverá riqueza no excedente. E se outro precisar e vir à mim. Ora, as
trocas têm por fim repartir os excedentes de maneira que sejam distribuídos aos
que carecem. As riquezas, portanto, são provisórias, pois que se destinam ao
consumo.
Esta constituição do valor pelo
comércio acarreta gastos com transporte, transformação, etc; de sorte que uma
subtração de bens é necessária para que certos bens possam ser transmutados em
riquezas. O único comércio em que nada
custaria seria a permuta pura e simples, na qual os bens só são riquezas por um
tempo ínfimo.
Os fisiocratas só contam com a
materialidade dos bens: a formação do valor nas trocas torna-se dispendiosa e
se estabelece mediante a dedução dos existentes. Constituir valor, não é, pois,
satisfazer necessidades mais numerosas, mas sacrificar bens em onme doutros. Os
valores formam o negativo dos bens.
Mas como estes se formam? Qual a
origem deste excedente que pode virar riqueza sem que os bens se exauram por
força de trocas sucessivas? Como o custo da formação incessante de valor não os
esgota?
O comércio não pode achar em si
este suplemento. Pois ele se propõe trocar valor por valor e segundo maior igualdade possível. Par dar muito, é preciso receber muito. Por
certo, uma mercadoria pode chegar num lugar com preço superior ao da origem;
mas isto corresponde aos gastos reais de transporte; e se ela nada perde com
isso, é porque a mercadoria estagnada pela qual foi trocada perdeu estes gastos
de transporte no seu próprio preço.
Assim, não é o comércio quem
produziu estes supérfluo; é preciso que já existam para que ele seja possível.
A indústria também não retribui o custo da formação do valor. Se há
concorrência, quase que a manufatura só retribui a matéria prima e o consumo
daqueles que sacrificaram bens para fazê-la, pois o artesão destrói em subsistência
tanto quanto produz no trabalho. E se há monopólio, o preço alto retribui
melhor os salários; e se os benefícios do empresário crescem, isto se deve à
baixa proporcional do valor de troca das outras mercadorias: só se faz fortuna
quando os demais fazem despesas.
Aparentemente, a indústria
aumenta os valores; mas ela só subtrai da troca as subsistências, sendo pois o
consumo em ao a produção quem aumenta. O consumo do operário que garante
subsistência, empresário que colhe benefícios, e o ocioso que compra o valor só
aparece onde os bens desaparecem; e o trabalho funciona como despesa, um preço
da subsistência que ele próprio consumiu.
O mesmo ocorre com o trabalho
agrícola. Ele também é ferramenta que precisa de subsistência e a extrai dos
produtos da terra e no comércio com a
terra, o trabalho fornecido pelo agricultor é supra-retribuído pela natureza,
um grão por uma espiga.
O crescimento de valor na
produção aí não é devido à manutenção do produtor. Há um produtor divino com o
qual o homem colabora e tem por sócio. A sua subsistência é mínima ante sua
produção; a renda fundiária é que permite transformar bens em valores ou
riquezas.
Daí os fisiocratas tiram duas
preocupações: dispor-lhe grande numerário para que ela aumente o trabalho, o
comércio e a industria; velar pelo adiantamento que deve retornar à terra para
produzir mais. O programa abrange: aumento de preços, mas sem os salários;
abono fiscal à renda fundiária; abolição de monopólios e privilégios, para
haver preço justo; um vasto retorno do dinheiro à terra para os consumos
anteriores às colheitas futuras.
É esse excedente que é trocado
que forma o valor, e que também é gasto na troca. Os fisiocratas começam sua
análise pela própria coisa designada no valor, mas que preexiste ao sistema de
riquezas, o mesmo que os gramáticos quando analisam as palavras partir da raiz,
da relação imediata que une som e coisa, e das abstrações sucessivas pelas
quais este som se torna nome numa língua.
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