Como se viu no
estudo sobre o “Caráter”, a singularidade globalizante dos traços estruturais
dos seres, a sua constituição formal individual, serve como contraponto ao
caráter universalizante da Estrutura. Ambos se completam na descrição
classificatória das formas da Natureza.
Contudo, é
difícil traçar identidades e diferenças levando em conta os infindáveis traços
trazidos à descrição. Por isso, surgiram aí duas técnicas de controle. Ou faz-se
comparações totais em grupos de semelhanças manifestamente abundantes onde a
diferença é bem delineável. Ou se escolhe um conjunto de traços dos quais serão
observados constâncias e variações nos seres que os tiverem. Aquele é o
paradigma do Método, este é o do Sistema. Respectivamente, os de Buffon e
Lineu. Concepção rígida e percepção fina, natureza imóvel e continuidade
fervilhante.
No paradigma
do Sistema, a estrutura que é o lugar da identidade. O da diferença é o
caráter, delimitado por uma descrição preliminar, e consolido pela comparação.
É arbitrário, pois negligencia tudo que não cai sobre a estrutura escolhida,
seja identidade ou não.
A pretensão é
um dia descobrir um sistema natural, onde a todas diferenças de caráter
responderiam as de mesmo valor na estrutura geral da planta[TE1].
Inversamente, os indivíduos ou espécies reunidos teriam as mesmas semelhanças
parte a parte.
Já o Método
natural é a meta dos botânicos. O sistema pode ter precisão variável, conforme
a menor generalidade da estrutura, o distanciamento entre o caráter e a
descrição. O estame ou o pistilo separariam ordens, enquanto raízes seriam
demasiado numerosas.
Em vez de
recortar os elementos que servirão de caracteres, o método os deduz (subtrai)
progressivamente a partir de uma espécie, da qual se faz um descrição completa
e fixando os valores da variáveis. Recomeça-se na espécie seguinte, mas sem
repetir-se nada já observado, até que sjam fixadas todas as diferenças. O
caráter que distingue cada espécie é o único mencionado traço sobre o fundo das
semelhanças silenciosas. Embora mais segura, é interminável dado o número de
espécies.
Tal exame,
entretanto, revela grandes famílias. Só há um método, mas infindáveis sistemas.
O sistema parte de caráter interno predefinido; o método se impõe de fora por
semelhanças e contrastes, transcreve imediatamente a percepção no discurso,
ficando o mais perto da decrição. Ele pode retificar-se, mostrando como
acidental o antes descrito como essencial numa família.
Para Adanson,
o método só difere do sistema pela idéia que o autor vincula a seus princípios,
encarando-os como variáveis no método e como absolutos no sistema. O sistema só
pode reconhecer, entre as estruturas, relações de coordenação: o valor está na frequência,
na eficácia combinatória. Nele, os caracteres essenciais distinguem as famílias,
enquanto, para Lineu e Tournefort, o essencial define gênero, bastando caráter
fictício para diferenciar famílias.
No método, em
compensação, é possível a subordinação da espécie à família, pois a organização
geral e suas dependências internas dão-lhe primazia sobre a translação lateral
de um equipamento constante de variáveis.
Sistema e
método repousam sobre mesma episteme:
o quadro contínuo, ordenado e universal de todas as diferenças possíveis. No
´sec. XVI, a identidade era assegurada pela marca visível ou não portada; as
aves não traziam diferenças entre si, mas no modo de caçar, na rotina, etc. A
partir do XVII, cada designação se deve fazer pro certa relação com outras designações
possíveis. É-se aquilo que os outros não são, o resíduo diferencial.
Método e Sistema
são as duas maneiras de se definir as identidades pela rede geral das diferenças. Em Cuvier, AS leis internas do
organismo tomarão o lugar dos caracteres externos diferenciais. A
classificação, como problema constitutivo essencial da HN alojou-se entre a
teoria da marca, renascentista, e a teoria do organismo, já indelevelmente
biológica.
[TE1]Talvez aqui possa se
fazer uma comparação com o direito natural, no qual este buscaria achar o
sistema de direitos na natureza, mas sem considerar que o seiu ponto de partida
é arbitrário, e que tendencialmente se aproximaria do sistema ínsito na
natureza.
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